O visto EB-2 NIW, que permite a obtenção da residência permanente nos Estados Unidos sem uma oferta formal de trabalho, tem sido uma opção muito procurada por brasileiros altamente qualificados. A proposta parece promissora: basta comprovar excelência profissional e impacto relevante em alguma área de interesse nacional. No entanto, o que deveria ser uma oportunidade segura de imigração tem se transformado, para muitos, em um processo frustrante, caro e desorganizado.
Um dos principais problemas está na forma como os pedidos são analisados. O USCIS, órgão responsável por avaliar as petições, delega essa responsabilidade a oficiais administrativos. Esses funcionários não precisam ter formação jurídica e, mesmo assim, têm poder total para aprovar ou negar os pedidos com base em critérios subjetivos. Não há necessidade de apresentar uma justificativa técnica detalhada para a decisão, o que abre margem para erros grosseiros e avaliações incoerentes.
Muitos brasileiros relatam experiências traumáticas com o processo. Há casos de negativas em que os pareceres nem sequer mencionam corretamente o perfil do peticionário, como se o dossiê não tivesse sido lido com atenção. Essas situações são mais comuns do que se imagina e causam revolta entre os candidatos, que se veem sem qualquer recurso prático para reverter a decisão. Mesmo com um histórico profissional impecável, o risco de rejeição é alto.
Além das falhas do sistema, há a atuação controversa de alguns advogados de imigração. Muitos profissionais que atendem brasileiros omitem os reais riscos do processo. Em vez de explicar que a aprovação depende da avaliação subjetiva de um oficial, preferem destacar que o cliente “preenche todos os requisitos”, incentivando a contratação de serviços que podem ultrapassar os 40 mil dólares. O resultado é um número crescente de brasileiros que investem alto e acabam com o sonho destruído.
Outro ponto importante é a disparidade entre as áreas profissionais. Profissionais de ciência e tecnologia tendem a ter mais facilidade na aprovação, enquanto aqueles que atuam em áreas como direito, educação e saúde enfrentam obstáculos muito maiores. Isso cria uma falsa sensação de meritocracia, quando na prática o sistema favorece determinados perfis de maneira não declarada, prejudicando quem também possui trajetória de destaque em outras áreas.
A taxa de aprovação do visto EB-2 NIW, segundo dados do próprio USCIS, varia entre 50% e 75%, dependendo do centro de processamento. Porém, esses números não contam toda a história. Muitos pedidos aprovados são de cidadãos norte-americanos ou de candidatos de áreas consideradas estratégicas, enquanto estrangeiros de outros setores são desproporcionalmente negados. Isso mostra que o sistema de imigração não trata todos com igualdade, como muitos imaginam.
A ausência de um mecanismo transparente e técnico de revisão das decisões faz com que as negativas sejam definitivas na prática. Os candidatos, mesmo após anos de preparação, ficam sem alternativas eficazes para contestar a análise. Isso reforça o sentimento de injustiça e abandono, especialmente entre aqueles que acreditaram que bastava cumprir os critérios estabelecidos em lei para ter sucesso no processo.
Diante desse cenário, é essencial que brasileiros interessados no visto EB-2 NIW busquem informações claras, realistas e imparciais. É preciso estar preparado para enfrentar um processo que pode ser mais político e subjetivo do que técnico. Sem esse conhecimento, o que parece ser um passo rumo ao sucesso pode se transformar em uma dolorosa decepção e em um prejuízo financeiro difícil de recuperar.
Autor : Denis Nikiforov